Colaborador Rubens Lima do Monte Neto

Me chamo Rubens, sou biólogo, me formei na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, onde também fiz o mestrado em farmacologia. Em 2007 vim para Belo Horizonte fazer o doutorado, também em farmacologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais, quando tive a chance estar no LABnano, um laboratório super antenado em novas tecnologias e na transformação do conhecimento em soluções para a sociedade.

Antes de vir para a Fiocruz, passei três anos no Canadá, onde realizei estágio pós-doutoral em Biologia Celular e Molecular, quando também tive o primeiro contato com a cultura “faça você mesmo” (do inglês do it yourself – DIY), bem como os movimentos maker e de biohackers. Nesse meio, me interessei pela impressão 3D e na volta ao Brasil, eu construí minha própria impressora 3D, o que passou a ser um hobby. Em 2015 eu assumi o cargo de Pesquisador em Saúde Pública no Instituto René Rachou (IRR) – Fiocruz Minas, e dois anos depois fui agraciado com um grant do Instituto Serrapilheira, cujo propósito era construir um dispositivo portátil para o diagnóstico molecular de doenças infecciosas, utilizando exatamente a impressora que eu havia construído. Essa experiência me fez investir em programas de empreendedorismo e logo que a Fiocruz lançou o InovaLabs, participamos, faturando o 2º lugar com o projeto “OmniLAMP, diagnóstico molecular em qualquer lugar”, aquele, inicialmente financiado pelo Instituto Serrapilheira, que posteriormente foi financiado pelo programa Inova Fiocruz – Produtos inovadores. Desde então, continuo dedicando parte do meu tempo a programas de aceleração e de desenvolvimento de negócios.

Em 2018, como consultor científico da plataforma de sequenciamento de DNA do IRR, ao receber uma visita dos coordenadores da RPT, Wim, Cássia e Eliane, me adiantei a apresentar “Eva”, à época a 1ª impressora que adquirimos e dividia espaço comigo na sala. Já utilizávamos a impressão 3D de forma cotidiana, empregando para impressão de peças de reposição e de acessórios para uso no laboratório. Tal sinergia me motivou a sugerir à RPT a criação de uma plataforma de impressão 3D nos moldes da Rede, algo que já estava alinhado com as aspirações da RPT. Em novembro de 2019 inauguramos oficialmente a PLUMMA-3D – PLataforma Unificada de Modelagem e Manufatura Aditiva (https://intranet.minas.fiocruz.br/intranet/noticia.php?codnoticia=11276), da qual estou consultor científico. Atualmente a PLUMMA-3D atende a maioria dos grupos de pesquisa do IRR, desenvolvendo solução que já foram publicadas em artigos científicos ou são objetos de proteção intelectual. A própria plataforma desenvolve projetos internos, a exemplo de um sistema de monitoramento remoto de freezers e geladeiras, que será disponibilizado em breve para a comunidade. Além disso, atendemos outras unidades da Fiocruz, e diferentes instituições públicas ou da iniciativa privada. Ainda no fatídico mês de março de 2020, a PLUMMA-3D auxiliou prontamente no combate à transmissão do SARS-CoV-2 por meio da fabricação de face-shields (https://portal.fiocruz.br/noticia/plataforma-de-impressao-3d-da-fiocruz-minas-produz-escudo-facial-para-profissionais-de-saude) e desenvolvendo soluções para coleta de amostras (https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/09/22/pesquisadores-desenvolvem-cotonete-com-impressora-3d-para-ampliar-numero-de-testes-de-covid-19-em-minas.ghtml). Hoje a PLUMMA-3D conta com as duas principais tecnologias para manufatura de objetos tridimensionais, a FDM (do inglês “fused deposition modeling” ou modelagem por fusão e deposição) e a DLP (do inglês “digital light processing” ou processamento digital da luz) que garante peças com alta resolução e para aplicações com características peculiares como a impressão de, por exemplo, guias cirúrgicos, chips para microfuídica e microagulhas.

Hoje percebo que, cada vez mais, as pessoas conseguem entender o valor da descentralização da tecnologia de impressão 3D e, diante da versatilidade, dão asas à imaginação. Com base nessa constatação, as demandas têm aumentado e em breve teremos mais aplicações da impressão 3D na Fiocruz. Esse inclusive esse é o tema do I Workshop Internacional de Impressão 3D Aplicada à Saúde, da Fiocruz, evento que estou ajudando a organizar junto com a RPT.

Além das atividades na PLUMMA-3D, eu integro o grupo de pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Patógenos (BAP) no IRR, onde focamos nossos esforços em tentar traduzir aspectos da ciência fundamental em soluções biotecnológicas. Eu coordeno projetos relacionados (I) à descoberta de novos fármacos contra as leishmanioses, (II) ao entendimento dos mecanismos moleculares de resistência a fármacos antileishmania, (III) ao desenvolvimento de vacinas contra as leishmanioses por meio da seleção de cepas vivas atenuadas de Leishmania, utilizando a técnica de CRISPR/Cas, e (IV) ao desenvolvimento de testes de diagnóstico espécie-específico de Leishmania onde incluímos nanotecnologia e o diagnóstico mediado por Cas.

Quando não estou me divertindo no trabalho, gosto bastante de viajar, sou instrutor de mergulho autônomo e me atrevo no mundo das corridas amadoras de rua, pilotar drone e me arriscar na fotografia amadora. Espero poder influenciar meu filho Samuel (6) a deixar esse mundo um pouco melhor do que o encontramos! Ensinamento do grande Robert Baden-Powell, fundador do escotismo. Sempre Alerta!