Desde 1989 na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Doutor Geraldo Moura Batista Pereira é imunologista e atualmente é o subchefe do Laboratório de Microbiologia Celular (Lamicel) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), consultor científico da Plataforma Tecnológica de Citometria de Fluxo RPT-08A, da Rede de Plataformas Tecnológicas da Fiocruz e pesquisador titular em Saúde Pública. Possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela UFRJ. Foi visiting associate da Cellular Immunology Section, Lab. of Immunology, NIAID, NIH, EUA, de 1984 a 1989, além de professor de Patologia Geral da Universidade do Estado do Rio de Janeiro de 1977 a 2014.
A evolução de processos inflamatórios crônicos de fases assintomáticas para doenças ativas sempre despertou a curiosidade dele. Este era também um grande interesse da Doutora Euzenir Nunes Sarno. Durante o curso médico, teve uma parte importante da iniciação científica trabalhando com Euzenir, inicialmente na Faculdade de Ciências Médicas da UERJ, e posteriormente no laboratório de Hanseníase, no IOC. Houve uma evolução de um interesse inicial na investigação de hepatites para doenças inflamatórias crônicas, inclusive hanseníase. A análise de lecócitos sanguíneos humanos nestas doenças inflamatórias e para seleção de pares doador-receptor para transplante renal despertou o interesse dele pela Imunologia e por métodos para caracterização fenotípica e funcional de células envolvidas em aspectos imunológicos de doenças inflamatórias crônicas. A necessidade de desenvolver o conhecimento em imunologia, o levou inicialmente a trabalhar com o Professor Marcello Barcinski durante o mestrado no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, e posteriormente com o Dr. Ethan Shevach no Laboratory of Immunology, NIAID_NIH em Bethesda, Maryland, nos EUA.
Durante este período, Geraldo passou a utilizar citometria de fluxo e análise de expressão gênica para avaliar resposta imune em modelos experimentais murinos. Ele trabalhou por mais de cinco anos no Lab of Immunology. Colaborou em trabalhos que descreveram CD69, uma molécula que está envolvida na localização de leucócitos em tecido, a função da interleucina-7 como fator de crescimento para linfócitos T, uma via de resposta imune celular a antígenos de transplantação resistente à ciclosporina A, e ativação de linfócitos T in vivo na resposta a Trypanosoma cruzi.
Após retornar ao Brasil, trabalhou inicialmente no laboratório de Hanseníase do IOC. Na Fiocruz, participou com Maria Cristina Vidal Pessolani da criação de um novo laboratório, o de Microbiologia Celular do IOC. Nos anos seguintes, o genoma humano, o do Mycobacterium leprae (ML) e de muitos outros organismos foram sequenciados. O conhecimento de antígenos específicos do ML permitiu colaboração em trabalhos que detectaram níveis de infecção em áreas endêmicas para hanseníase e como a resposta ao ML muda na evolução da infecção latente para hanseníase.
Durante os primeiros anos na Fiocruz, em colaboração com Wilson Savino e Tânia Araújo-Jorge, fez parte da instalação de um citômetro de fluxo FACScan-BD que foi o ponto de partida para os esforços em acesso a citometria de fluxo para investigação de fenótipo de leucócitos em modelos experimentais e em doença humana. Em 2005, em colaboração com Wilson Savino e Maria Cristina Pessolani, participou da criação da Plataforma Tecnológica de Citometria de Fluxo RPT-08A, com seu citômetro de fluxo e “sorter” FACSAria-BD. Estes primeiros passos em análise multiômica de populações celulares progrediram com a aquisição de um sistema de dissociação programada de tecidos, facilitando a análise simultânea de populações celulares em sangue e tecidos. Nos últimos dois anos a plataforma recebeu um novo citômetro o Symphony A5-BD, que analisa até 30 parâmetros e um sistema de análise “single-cell” o Chromium iX 10xGenomics, que permitem em conjunto avaliação de células em sangue e tecido, incluindo expressão gênica de células isoladas e características epigenéticas das células investigadas.
Para avançar em análise multiômica de populações de sangue e tecido foi necessária a criação de uma nova forma de organização, o Consórcio “Single-Cell” de Manguinhos, que inclui a plataforma RPT-08A e as plataformas tecnológicas de sequenciamento NGS e bioinformática da RPTF. Esse é o início de uma nova fase, que deve dar contribuições relevantes para investigação de mecanismos patológicos em doenças relevantes no Brasil, bem como diagnóstico e acompanhamento de pacientes que possam se beneficiar destas metodologias.